sexta-feira, 23 de julho de 2010

BEIÇOS, BEIJOS E DESEJOS


BEIÇOS, BEIJOS E DESEJOS
Oswaldo Antônio Begiato
 
Enquanto o rio corre molhando os pés da inocência
E pesadas pedras se escondem das carícias úmidas
Amo. Amo com todo o ímpeto de meu sangue.
 
As recriminações se põem a mexer com meus nervos.
As dissipações dos sentimentos foram pagas com juros
Aos corações certos e nas datas indicadas pelo pranto.
 
Afogo-me em correntes cristalinas como um cão sedento.
 
Entre pedras fico sem beiços para ofertar beijos. É o fim.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

VISITA PURPÚREA


VISITA PURPÚREA
Oswaldo Antônio Begiato

Por aqui, hoje, o sol se fez visita
E meus olhos angustiados se encantaram.
Fiquei com alma de cidade grande
E esperanças de porto pequeno.

O mar sem medidas e limites se abriu miúdo
Deixando-me agigantado e entorpecido
Diante de um horizonte colorido de batom
A abraçar-me em arrebatamentos espantosos.

Pude tocá-lo suavemente com mãos brancas,
Em sua ara depositar ofertas vermelhiças,
Experimentando a ternura, rebento milagroso
Da vida que acontece a cada ínfimo olhar.

O homem mal feito, impregnado de vícios,
Se viu criança com pincéis de luzes coloridas
E uma imensa tela bordada, feita de céu,
Brincando distraído no quintal do Universo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

IMPERFEITO SONETO DO AMOR MADURO


IMPERFEITO SONETO DO AMOR MADURO
Oswaldo Antônio Begiato

Vim aqui fazer uma visita breve
Mas trouxe, no estribo da boca, o verbo,
Porque viver mesmo, sem dizer “eu te amo”,
Ninguém vive. Ninguém sobrevive. Ninguém.

Não quero que a fascinação te cegue,
Nem quero o despojamento te calando,
Quero-te com os ouvidos soltos aos sons
E o coração leviano, manso e entregue.

Assim poderei dizer: - Te amo! Sem medos,
Com todas as palavras expostas pela dor
E que o silêncio escondeu de mim e de ti.

Que minha vida continue sempre assim
Jamais precisando te perdoar nada,
Mas sempre precisando te pedir perdão.

sábado, 10 de julho de 2010

COMPREENSÃO


COMPREENSÃO
Oswaldo Antônio Begiato

Ninguém consegue amar,
com mais perdões,
um artista, do que outro artista,
quando os dois estão em estado de criação.

Eu vi,
No cenário da cidade
que me sacode todos os dias
com seus movimentos de amor e de ódio,
com seus quadros sacrílegos e adros sagrados,
um mendigo,
com as mãos sujas de vícios irretocáveis
e as unhas encravadas no precipício
segurando as mãos sujas de nada absoluto
e as unhas sem esmalte e cheia de arestas
de uma mendiga.
Eram dois namorados extasiados
frente ao encontro da luz no final do túnel.

Havia na cena do ato tanto carinho
que dos olhos dela
dois rios salgados nasceram furtivamente
inundando minha alma.

Havia tanto brilho escapando dos olhos dele
que as migalhas que o cercavam
transformavam-se em estrelas
dentro de um céu sem gemidos e sem arrependimentos.

Eu vi.

Ninguém consegue amar,
com mais perdões e com mais abundâncias,
um mendigo, do que uma mendiga
quando está em estado de plena singeleza.

E vice-versa.